Educação

Expectativa e críticas aguardam Base Nacional Comum Curricular nas escolas

Falta de debate com professores e prioridades distantes das necessidades dos alunos seriam pontos fracos do documento

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Exposição na internet para consulta pública não foi suficiente para debate sobre necessidades na educação Exposição na internet para consulta pública não foi suficiente para debate sobre necessidades na educação
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por Thais Barreto, em colaboração para CartaCapital

A construção de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nasce com méritos e contradições. Por um lado, cumpre a Constituição brasileira ao desenhar um currículo que amplia o conhecimento em escala nacional e aperfeiçoa a forma de ensino de forma democrática. Por outro, a crítica incisiva sobre a participação efetiva da comunidade escolar e da sociedade civil nesta fase em que o texto está em discussão no meio acadêmico e deverá ser aprovado no próximo mês.

A BNCC está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), fruto de diversas conferências estaduais e municipais, o que lhe dá legitimidade e reflete a aspiração de muitos educadores, defende a pedagoga Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Todavia, mesmo a exposição na internet para consulta pública não muda o fato de que faltou abertura para se influenciar diretamente sobre os critérios definidores da Base. Os professores das escolas públicas entrevistados pelo  Carta Educação reclamaram, por exemplo, que o debate sequer passou nos diálogos frequentes entre os diretores, professores, alunos e os coordenadores pedagógicos de suas escolas.

Professora de História na Escola Leonardo Vilas Boas, em Osasco, Grande São Paulo, Kátia Regina de Oliveira Rosa buscou na internet informações sobre a Base e conta que em sua escola nem mesmo o diretor está por dentro do conteúdo do documento. Segundo a educadora, diante de recursos precários para o ensino de uma turma com 40 alunos, ela e demais professores trabalham em sala de aula seguindo o currículo do estado de São Paulo seguindo as apostilas enviadas pelo governo. Elas servem de orientação básica, de forma coordenada com a avaliação semestral dos alunos.

Diante desse quadro e embalados pela discussão que a BNCC desencadeou, professores apontam para a necessidade de um modelo de ensino que contemple as necessidades dos alunos. “Será que um currículo padronizado é a melhor coisa para trabalhar com alunos que nem sabem por que estão ali?”, questiona Kátia, professora há 22 anos.

Ao sintetizar novos conteúdos e metodologias, a BNCC poderá influenciar não apenas na formação de alunos, mas também de professores. “É a primeira vez que existe um plano nacional para equalizar o acesso de todas as pessoas a um padrão de ensino”, observa Anna Helena.

Educadores criticam pressuposto de um aluno ideal, em uma escola ideal e não real (Foto: Pixabay) Educadores criticam pressuposto de um aluno ideal, em uma escola ideal e não real (Foto: Pixabay)

A discussão da Base Nacional ganhou corpo a partir de 2014, 26 anos após a Constituição de 1988, sob a qual a Educação é um direito de todos e um dever do Estado. De todos os avanços que a BNCC possa apresentar, como a necessidade de incluir mais elementos da História do Brasil, da América do Sul e da África, há lacunas ainda não preenchidas.

O professor de Filosofia Marcio Pimentel critica o caráter genérico do currículo proposto. “O currículo é insuficiente e muito genérico em relação à Filosofia, por exemplo. A avaliação de aprendizagem parte de um pressuposto inexistente, de um aluno ideal, de uma escola ideal”, afirma o educador da Escola Antônio Manoel Alves de Lima, localizada na Zona Sul de São Paulo e ocupada no ano passado.

Pimentel tomou conhecimento sobre a Base quando participou de uma palestra na USP quando fazia um curso e achou o debate interessante, mas reafirmou que nas escolas pouco ou nada se tem falado sobre o documento. Nem mesmo no site da Secretaria da Educação do Estado ele encontrou informações facilmente.

Mais crítica ainda, Vanessa Gravino, professora de História na Escola Idomineu Antunes Caldeira, em Cotia, na Grande São Paulo, defende a forma como a Base foi construída. “Uma Base Nacional Comum deveria ser pensada a partir de amplos debates realizados nas escolas, envolvendo grande parcela da sociedade, partindo de questões como: o que entendemos por educação? Quais formatos educacionais queremos para o Brasil?”, protesta. “Pensar em currículo antes de abordar essas questões é inviável.”

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