Educação
USP Leste: ponto final?
Câmara dos Deputados de São Paulo conclui CPI que investiga terras contaminadas no campus
Criada há dez anos no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) nasceu como um projeto inovador, com cursos não tradicionais, e com a aspiração de responder à demanda histórica por uma universidade em uma das regiões mais populosas da capital. Ao fim de uma década, a Each enfrenta, porém, um capítulo longo e melancólico.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pela Câmara dos Deputados para investigar casos de terras contaminadas em São Paulo aponta a necessidade de “apurar as responsabilidades”, em seu relatório final, do ex-diretor do campus José Jorge Boueri Filho por autorizar o despejo de 109 mil metros cúbicos de terra, posteriormente avaliada como contaminada, dentro das dependências da universidade, localizada dentro de uma área de proteção ambiental. O relatório também aponta a necessidade de retirada imediata do aterro do campus da Each e “a morosidade nos processos de reabilitação do solo de áreas contaminadas e o descaso com a saúde ambiental da cidade”.
O local sofreu interdição judicial no ano passado, após a constatação de contaminação do solo por gás metano, altamente inflamável. O problema foi agravado por uma infestação de pombos, pela contaminação da água dos bebedouros e pelo aterro ilegal. De acordo com o documento da ação civil pública elaborado pelo Ministério Público Estadual, entre outubro de 2010 e outubro de 2011, cerca de 200 caminhões entraram diariamente no campus, carregando terra de origem então desconhecida.
“São perdas de ordem financeira para a USP e perdas incalculáveis de ordem acadêmica, educacional, emocional e psicológica para professores e alunos. Muitas pessoas se sentem desamparadas e parece que a USP não se importa com a nossa saúde”, reclama a professora da Each e dirigente da Adusp, Adriana Tuffaile.
Em relato à CPI, um funcionário da universidade declarou que o empresário Valter Pereira da Silva disse que Boueri teria autorizado o aterro, em troca do qual a empresa Ratão, de Silva, realizaria a limpeza do mato do campus. “A opinião de vários colegas é de que a USP está demorando muito para resolver esse problema e não o está fazendo da melhor forma possível”, afirma Adriana.
O relatório final da CPI também aponta que cerca de 4 mil alunos foram prejudicados com a interdição em 2014. “Além de problemas de realocação de salas de aula por diversos pontos da cidade, a preocupação do corpo docente e discente, assim como os trabalhadores do campus, sempre esteve associada à exposição de gases, vapores e demais contaminantes encontrados na Each- Leste”, diz o relatório.
Apesar de os trancamentos e as novas matrículas não demonstrarem aumento, no primeiro caso, ou redução, no segundo, Adriana acredita que os problemas no campus prejudicaram os estudantes dessa unidade. “Pela experiência em minha área e de conversar com os alunos, sabemos que vários desistiram de disciplinas e por isso estão cursando elas novamente. São casos que fogem da estatística da burocracia, Pois eles não trancaram oficialmente, e simplesmente foram reprovados. Mas que prejudicou vários alunos, isso eu não tenho dúvidas.”
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