Educação

“Os professores pedem ajuda com aquele vídeo”

Psicóloga diz que vídeo de criança derrubando coisas na escola mostra falta de acolhimento, mas que professores não sabem o que fazer

Vídeo gravado em escola pública de Macaé (RJ) viralizou
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A psicóloga Milena Aragão, doutora em Educação pela Universidade Federal do Sergipe ficou assustada com um dos vídeos mais comentados da semana.

Gravado em uma escola pública de Macaé, no Rio de Janeiro, o vídeo mostra uma mulher filmando um menino jogar coisas no chão, enquanto diz “deixem ele” e “chama os bombeiros”. Após a viralização, a diretoria da escola foi afastada.

Milena Aragão “Apenas afastá-los não resolve porque não é um caso isolado”

Especialista em técnicas de educação não violentas, Milena diz que viu principalmente falta de conhecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e de como acolher uma criança, mas chama atenção para o pedido de ajuda que os professores fizeram com o vídeo.

Carta Educação: Como foi sua reação ao assistir ao vídeo?

Milena Aragão: Eu me senti assustada, mas não com a criança. Tenho acompanhado este assunto porque vou trabalhar com meus alunos da graduação e fiquei impressionada com o despreparo e com os comentários. Os adultos incentivaram: “isso, vai, derruba, deixa a polícia chegar”. É um incentivo. Vejo uma falha no processo de formação dos professores.

CE: Como você traduziu a reação do menino?

MA: Assim que olhei, vi que estava pedindo ajuda. Ele provavelmente não conseguiu de outro jeito e tentou este.

CE: E a dos profissionais?

MA: Eles erraram. Filmar é cyberbullying. Mas entendo como um pedido de ajuda dos professores. Estão comunicando: não sabemos o que fazer. Tem desconhecimento profundo do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em nenhum momento o ECA diz que não pode encostar! Conter pode. Vai que em um chute daquele a estante cai em cima dele? Tem que conter sim. É um despreparo geral, os professores também estão pedindo ajuda. A gente precisa olhar para esta questão com mais cuidado.

CE: O que a sra. diria para aqueles educadores?

MA: Apenas afastá-los não resolve porque não é um caso isolado. É um caso que mostra uma necessidade de formação. Primeira coisa que eu faria é ouvi-los porque para eles fazerem isso,  a tensão deles também está muito grande. O professor também está com o contexto difícil. Então precisa de espaço de desabafo primeiro para depois poder entrar na formação e em técnicas de como lidar com frustrações da infância.

CE: Um vídeo postado por uma mãe em resposta aos ataques ao primeiro vídeo também alcançou milhões de pessoas. Ela conta que o filho protagonizou cenas parecidas e tem transtorno de déficit de atenção. Este comportamento caracteriza algum distúrbio?

MA: Não. No caso específico não temos como saber se há algo, mas já atuei como professora e mediei outros casos em que a criança age assim. Não é preciso que a criança tenha distúrbio nenhum. Basta estar passando por um processo de frustração. Se houve bullying, como comentou a mãe, geralmente é algo que ela enfrenta com frequência e ela vai pedir ajuda da forma que consegue, se irritando. Nós adultos temos autorização de ficarmos chateados, irritados e desabafar. Qualquer criança que manifesta irritação é taxada.

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