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Na campanha à reeleição, Biden, de 80 anos, enfrenta o extremismo republicano e o ceticismo do eleitor

A inflação turva os bons indicadores da era Biden – Imagem: Mark Makela/Getty Images/AFP
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Ela ficou conhecida como a “estratégia do porão”. Enquanto a pandemia de coronavírus se espalhava do lado de fora, o candidato presidencial Joe Biden se dirigia à nação de um estúdio improvisado em sua casa em ­Delaware, evitando gafes de improvisação e permitindo que o rival Donald Trump se autodestruísse. Três anos depois, com os bloqueios suspensos e os Estados Unidos quase de volta a uma nova versão do normal, Biden sabe que discursos em chamadas imperfeitas pelo Zoom ou em auditórios vazios não serão suficientes. O presidente, de 80 anos, o mais velho da história norte-americana, enfrenta a campanha final e mais cansativa de sua vida.

No sábado 24, o democrata começará para valer, com o primeiro comício de sua candidatura à reeleição em Filadélfia, no estado crucial da Pensilvânia. Biden se dirigirá a apoiadores do movimento sindical, parte vital de sua coalizão, e divulgará conquistas econômicas, incluindo um renascimento da indústria e números recordes de empregos.

Dinossauro Irritator viveu no atual Ceará há 110 milhões de anos

Ela ficou conhecida como a “estratégia do porão”. Enquanto a pandemia de coronavírus se espalhava do lado de fora, o candidato presidencial Joe Biden se dirigia à nação de um estúdio improvisado em sua casa em ­Delaware, evitando gafes de improvisação e permitindo que o rival Donald Trump se autodestruísse. Três anos depois, com os bloqueios suspensos e os Estados Unidos quase de volta a uma nova versão do normal, Biden sabe que discursos em chamadas imperfeitas pelo Zoom ou em auditórios vazios não serão suficientes. O presidente, de 80 anos, o mais velho da história norte-americana, enfrenta a campanha final e mais cansativa de sua vida.

No sábado 24, o democrata começará para valer, com o primeiro comício de sua candidatura à reeleição em Filadélfia, no estado crucial da Pensilvânia. Biden se dirigirá a apoiadores do movimento sindical, parte vital de sua coalizão, e divulgará conquistas econômicas, incluindo um renascimento da indústria e números recordes de empregos.

Ao falar no berço da democracia dos EUA, ele também pode argumentar que tem sido um baluarte humano contra o extremismo do movimento Make ­America Great Again (Maga) de Trump, ao mesmo tempo que encontra maneiras de negociar com os congressistas republicanos. Mas depois da existência resguardada que desfrutou na campanha pandêmica de 2020 terá de provar novamente sua aptidão para o cargo. “O principal obstáculo para um segundo mandato de Biden é a percepção generalizada de que ele está velho demais para servir efetivamente um segundo mandato”, disse Bill Galston, ex-assessor de políticas do presidente Bill Clinton. “Ele tem que fazer uma campanha vigorosa, e não há tempo melhor do que agora para sair e começar a lutar contra a percepção de que fará mais uma campanha de porão porque não tem energia para fazer mais nada.”

Biden terá muitas oportunidades, e obrigações, para encontrar os eleitores na campanha desta vez, gerando momentos espontâneos que podem ser bênção e maldição, devido ao seu histórico de trapalhadas verbais. Em dezembro de 2019, quando um homem em Iowa sugeriu que ele estava muito velho e levantou questões sobre os negócios de seu filho no exterior, Biden o chamou de “maldito mentiroso” e sugeriu um concurso de flexões. Galston, integrante sênior do grupo de pesquisadores da Brookings­ ­Institution em Washington, acrescentou: “Isso faz parte do território e, considerando tudo, é um risco que a campanha deve correr. Porque, se eles o mantiverem tão cauteloso quanto até agora, ele não terá chance de refutar a noção de que está velho demais. E isso pode ser fatal”.

Biden estava em seu ponto mais fraco durante a campanha pessoal no início de 2020. Apesar de ingressar na corrida como o provável líder, perdeu as três primeiras disputas primárias democratas, em Iowa, New Hampshire e Nevada, e só conquistou a indicação de seu partido depois de a pandemia se instalar. Durante a eleição contra Trump, Biden retomou a campanha pessoal por meio de círculos fisicamente distantes, comícios drive-in e outros pequenos eventos em estados decisivos. Mas quase sempre voltava todas as noites para dormir em casa em Delaware.

Como presidente, ele viajou por toda parte, fez inúmeros discursos e respondeu àqueles que duvidavam com um discurso combativo sobre o Estado da União, no qual discutiu verbalmente com os republicanos e saiu por cima. Mas não deu entrevistas a jornais nacionais e fez muito menos coletivas de imprensa do que seus predecessores – alimentando a percepção de que seu círculo íntimo está tentando protegê-lo da exposição.

O democrata terá de provar que não está velho demais para o cargo

O comício público de sábado começará a abordar uma desconexão confusa. Biden presidiu a mais forte recuperação pós-pandemia de qualquer grande economia, incluindo a criação de 13 milhões de empregos, mais do que qualquer presidente criou em um mandato de quatro anos, e o menor desemprego em meio século. Uma pesquisa da Associated Press–Norc Center for Public Affairs no mês passado descobriu, no entanto, que apenas 33% dos adultos norte-americanos dizem aprovar sua forma de conduzir a economia e apenas 24% dizem que as condições econômicas nacionais estão em boa forma. Uma explicação pode ser a inflação teimosamente alta impulsionando o aumento dos preços para os consumidores. Outra é que os cidadãos ainda não sentem os benefícios em ­suas vidas diárias.

O estrategista democrata Antjuan ­Seawright disse: “Os números das pesquisas podem não refletir o trabalho que está sendo feito porque fizemos a legislação, agora temos que passar para a educação e implementação. Parte da política hoje é sobre emoções, e, embora tenhamos conquistado muito, algumas das conquistas os americanos podem ainda não sentir ainda, e levará algum tempo. Parte disso é dizer a eles quando vai chegar, como vai chegar, mas também destacar a alternativa e o que está do outro lado, e que numa eleição todas as coisas que foram realizadas podem ser retiradas”.

A campanha à reeleição de Biden, liderada por Julie Chávez Rodríguez, neta do ativista trabalhista latino Cesar ­Chávez, está convencida de que tem uma boa história para contar. Ele passou sua presidência a combater a Covid, reunir aliados ocidentais contra a Rússia e aprovar projetos de lei importantes, como um pacote bipartidário de infraestrutura e legislação para promover a indústria de alta tecnologia e medidas climáticas. Quando anunciou formalmente sua campanha à reeleição, num vídeo em abril, pediu aos eleitores um tempo para “terminar este trabalho”. Ele também gosta de dizer aos críticos: “Não me julgue contra o Todo-Poderoso, julgue-me contra a alternativa”, que parece ser um republicano de extrema-direita como Trump ou o governador da Flórida, Ron DeSantis. Biden provou ser um ativista eficaz para os democratas nas eleições de meio de mandato do ano passado, escolhendo seus locais com cuidado e destacando o extremismo do “Maga” juntamente com os direitos ao aborto.

Chris Whipple, autor de The Fight of His Life: Inside Joe Biden’s White ­House (A Luta de Sua Vida: Por Dentro da Casa Branca de Joe Biden), disse sobre a campanha de 2024: “Ele provavelmente usará uma página do manual das eleições intermediárias de 2022. Na época, Biden queria ir a todos os lugares e falar sobre tudo. Ele queria se gabar de todas as ­suas realizações dos primeiros dois anos e tinha muito do que se gabar. •


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

Publicado na edição n° 1265 de CartaCapital, em 28 de junho de 2023.

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