Educação

Reorganização escolar: “Nem passa pela cabeça de Alckmin voltar atrás”, diz gravação

Enfatizar “radicalização” nas ocupações está entre as estratégias discutidas em reunião com dirigentes

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Após vazamento de gravação sobre reorganização Após vazamento de gravação sobre reorganização
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“Desculpa aí tirar o descanso de vocês no domingo”. Com essa frase, o chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Educação, Fernando Padula, abriu a reunião com dirigentes regionais de ensino na manhã de domingo (29) para traçar estratégias sobre a reorganização escolar.  

“O governador (Geraldo Alckmin) não está nem titubeando em relação a organização. Nem passa na cabeça dele voltar atrás”. Realizada sem a presença do secretário de Educação, Herman Voorwald, a reunião foi gravada e divulgada pelos Jornalistas Livres. Ouça o áudio completo abaixo:

Ouça o áudio feito por Jornalistas Livres:

Ligado ao PSDB, o chefe de gabinete afirmou que o governador tem apoiado e falado com o secretário Herman Voorwald. “Anteontem e ontem” ele (o governador Geraldo Alckimin) acabou falando comigo, falou hoje novamente e já estava sabendo da reunião de hoje.”

Segundo Padula, o governador pediu organização de visitas às escolas. Na gravação, o chefe de gabinete também diz que Alckmin e o secretário de Segurança do Estado, Alexandre Moraes, acham que essa estratégia pode funcionar. “Aquela escola que já tá muito radicalizada, é bobagem. Pode passar, tenta, mas não vai. Tem escola que está bem instrumentalizada, tem UNE, tem até professor. Tem escola que tinha quatro alunos, só da gente passar eles tremiam feito vara verde. Tem realidades bem diferentes.”

A ideia, segundo ele, é mostrar, em primeiro lugar, a tentativa de diálogo por parte da Secretaria de Educação e também enfatizar que a “radicalização” está do outro lado, isto é, por parte das escolas ocupadas e seus organizadores. As estratégias do governo tucano incluiriam passar “um ou dois tipos de ofício” para que se apresentem as propostas e até mesmo organizar uma audiência pública.

“A gente sabe que vai ser complicado, que eles vêm para bater, mas a gente pode minimamente trazer gente do outro lado pra você ter as duas questões”, diz.

No áudio, Padula também relata que tem percorrido escolas ocupadas e que já foram vistos quatro carros do sindicato dos professores (Apeoesp) estacionados nas proximidades das escolas.

Também diz que procurou ouvir o cardeal de São Paulo, Dom Odilo Scherer, sobre a questão “porque estamos apelando para todo mundo”. Neste ponto da gravação, uma assessora explica que o religioso afirmou que “vê o que os alunos falam, mas não vê a resposta da secretaria” e pediu mais exposição aos dirigentes.

Padula apresenta aos dirigentes “Leandro, da Juventude Ação Popular”. Ele pertenceria ao grupo de “jovens estudantes universitários e alguns secundaristas” que também ajudariam na ação. “A gente pode também fazer uma ação com jovens apoiando, como jovens fazendo esta guerra aí da ocupação.”

Decreto sairá na terça-feira (01/12)

Segundo o áudio vazado da reunião de Padula com os dirigentes estaduais, será publicado amanhã no Diário Oficial o decreto que autoriza as remoções de cargos para reorganização. “O decreto estava pronto, na quinta nós fomos lá para o Palácio. Acharam que era complicado porque agora que estão falando em diálogo, vem e decreta, mas precisamos do decreto porque precisa transferir as pessoas. Sairá um decreto autorizando a Secretaria a transferir pessoal. Ai a gente consegue ter o instrumento legal”, diz ele.

Padula explica que o decreto precisou sofrer alterações, mas que será regulamentado posteriormente pela Secretaria. “A resolução, que é aquela que vocês já viram, sairá igualzinha.”

Aos 36 minutos da gravação, alguém começa a argumentar que há diretores de escola e supervisores que acatam os argumentos dos alunos sobre a ocupação das escolas. “É difícil contar com o supervisor, teve diretor que pediu apoio, sem resposta. Ela está fazendo um trabalho para o aluno, não pelo PSDB”, diz a voz, não identificada no áudio.

Resposta do chefe de gabinete: “Então, é para desistir, é isso?”, diz. Traça-se uma estratégia para falar com os servidores e Padula conclui. “A gente sabe de lá. É um movimento político pra fragilizar o governo, aí entrega para eles governarem. Se conseguirem acabar com a reorganização vamos embora de fio a pavio, vamos embora. Eles ganharam a eleição.”

Nesta segunda-feira, o movimento “Não fechem minha escola”, começou a denunciar a presença de policiais em algumas escolas ocupadas. Também nesta manhã, alunos manifestaram-se novamente, zona oeste de São Paulo, contra o plano de reoganização escolar.

A reportagem de Carta Educação entrou em contato com a Secretaria de Educação de São Paulo na tarde desta segunda-feira e aguarda o posicionamento oficial da mesma.

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