Educação

“Parece que só tem a Nasa”

Para João Canalle, só a escola pode mostrar o que o País está fazendo e gerar interesse na área espacial

João Canalle|
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Segundo o coordenador da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), João Canalle, o governo brasileiro mantém seu desenvolvimento espacial a uma taxa lenta, e a escola pode mudar esse quadro ao incentivar aqueles que tiverem interesse a se especializar na área. A seguir, ele explica como os professores podem apresentar o programa espacial brasileiro e mostrar as oportunidades de trabalho na área.

Carta na Escola: As escolas promovem pouco o ensino de Astronomia?
João Canalle: A Astronomia está presente nos livros didáticos em diferentes níveis de profundidade. Em geral, se começa falando das órbitas de planetas e cometas em Geografia, o que envolve movimentos relacionados à Matemática. Além disso, sua história, uma das mais antigas, está sempre relacionada ao desenvolvimento do pensamento humano. Sobretudo, vivemos em um planeta e em um mundo tecnológico que depende de satélites que estão orbitando a Terra em trajetórias circulares, elípticas ou geoestacionados para controle de produção agrícola, previsão de tempo, e uma infinidade de informações. Nosso dia a dia é Astronomia.

CE: Quais temas devem ser trabalhados no Ensino Médio?
JC: No Ensino Fundamental a concentração está a cargo do professor de Ciência nos primeiros anos e depois ao de Geografia nos últimos. A partir daí está mais ligada à Física, que apresenta as três leis de Kepler com os respectivos embasamentos históricos, as contribuições de Copérnio, Galileu e depois Newton, que introduz a Lei da Gravitação universal e já consegue prever, por exemplo, o lançamento de satélites ao propor uma velocidade mínima de lançamento que não mais permitiria que ele voltasse à Terra, ou seja, dá os primeiros passos para a existência de satélites, que hoje são enviados quase semanalmente.

CE: Qual a importância de contextualizar o programa espacial brasileiro?
JC: O governo brasileiro tem mantido seu desenvolvimento espacial a uma taxa lenta para os engenheiros da área. Lançar satélites é algo que só se aprende lançando muitos e não um a cada quatro anos, como ocorre. A escola deve estar envolvida neste tema, porque para essa situação mudar precisamos de pessoas preparadas. Os jovens só vão se qualificar se souberem das oportunidades de emprego que existem. Sem informação, parece que só tem a Nasa. O Brasil tem essa tecnologia em desenvolvimento e oferece mercado para gente qualificada nas engenharias aeroespaciais, físicos, químicos e especialistas de precisão. Só as escolas podem mostrar o que o País está fazendo e suas necessidades para que aqueles que tiverem gosto pela área busquem se especializar.

CE: A Olimpíada de Astronomia tem conquistado jovens para a área?
JC: Tenho um amigo que diz que essas olimpíadas são uma revolução silenciosa na educação, porque devagar e continuadamente a gente tem interagido com professores de escolas nos lugares mais diversos do Brasil. Os professores recebem material de orientação de estudo, sugestões de atividades e experimentos para fazer com os alunos a baixíssimo custo. A gente sugere uma base de lançamentos com caninhos de PVC que custa menos de 5 reais e foguete com garrafas pet. Hoje estamos vendo competições espontâneas entre escolas e municípios. As olimpíadas de conhecimentos são uma forma de as sociedades científicas interagirem a distância e continuamente com professores e alunos. É o caso da OBA, e devagar estamos levando a Astronomia para lugares que sem ela passariam à margem do tema.

*Publicado originalmente em Carta na Escola

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