Educação
O primeiro grande livro de Alê Abreu
Diretor de “O Menino e o Mundo”, indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2015, escreve sobre o primeiro livro que marcou sua vida
Eu já havia lido e me divertido com O Gênio do Crime quando indicaram na escola a leitura de Sangue Fresco, o segundo livro das aventuras da turma do Gordo, também chamado de Bolachão.
Em O Gênio do Crime, acompanhamos a turma desmantelar o esquema de uma fábrica clandestina de figurinhas difíceis. Mas foi o suspense de Sangue Fresco que definitivamente me arrebatou. Eu me sentia como mais um integrante da turma do Bolachão, preso ao lado dele, de Alcides, Pituca, Berenice e Hugo Ciência no meio da Floresta Amazônica.
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A história começa com um avião sobrevoando a floresta, carregado de crianças bem nutridas, sequestradas nas escolas de São Paulo. Logo descobrimos que a ação é coordenada por uma organização criminosa, a Fresh Blood Corporation, liderada por Ship O’Connors, que mantém crianças em um campo de concentração para sugar seu sangue e depois exportá-lo para os Estados Unidos e a Europa. E o sangue do Gordo, é claro, é dos mais valiosos.
O mais legal nos livros de João Carlos Marinho é o tom de sua escrita, irreverente, surreal e capaz de nos surpreender com sua liberdade e espontaneidade. Basta dizer que numa das passagens, logo nas primeiras páginas, descreve em detalhes como uma enorme sucuri tritura e devora um garoto. A aventura fica ainda mais emocionante quando Gordo lidera a fuga da turma pela floresta, com mateiros experientes na sua cola.
Sangue Fresco foi publicado originalmente em 1982 e reeditado em 2006. Um pouco antes disso, e para a mais agradável surpresa que tive como ilustrador de livros, toca o telefone do estúdio e, do outro lado da linha, a editora faz a encomenda: as ilustrações para a reedição de Sangue Fresco!
Vinte e cinco anos depois revivi a aventura com o mesmo prazer da infância e de quebra recebi o João para um bate-papo. “Pense no inferno verde!”, dizia para me direcionar na feitura da capa do livro, referindo-se às crianças presas na floresta, e “nunca desenhe os personagens”, opinião com que concordei, afinal, “cada leitor deve imaginá-los de seu jeito”.
* Alê Abreu é ilustrador e diretor do filme Garoto Cósmico e da série Vivi Viravento. Em 2015, foi indicado para o Oscar de Melhor Animação pelo filme O Menino e o Mundo
** Publicado originalmente em Carta Fundamental
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