Carta Explica
Entenda a saída dos EUA e Israel da Unesco
Os países alegaram como motivo para a saída a postura anti-Israel da Unesco
Na última semana, os Estados Unidos e Israel anunciaram a saída da Unesco, agência das Nações Unidas voltada para a Educação, Ciência e Cultura.
O país norte-americano foi o primeiro a anunciar a saída, alegando um viés anti-Israel por parte da agência e a necessidade de reformas. Demorou pouco para que Israel seguisse a decisão.
Para entender os possíveis impactos do episódio, o Carta educação levou algumas questões ao professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Carlos Eduardo Lins da Silva. Confira!
1. Como o senhor avalia a contribuição da Unesco?
A Unesco, a exemplo de todas as entidades do sistema das Nações Unidas, tem sido importantíssima para melhorar a condição de vida de pessoas em todo mundo, ao promover, no seu caso específico, valores da educação, da ciência e da cultura. A ideia das Nações Unidas e suas realizações, entre elas a Unesco, sem a menor sombra de dúvida, são uma das grandes realizações humanas do século 20 e continuam a ser fundamentais para o mundo neste século.
2. A que atribui as saídas dos EUA e Israel da organização?
A justificativa para a saída dos EUA e de Israel são sucessivas decisões tomada pela organização consideradas por americanos e israelenses como indícios de preconceito contra Israel.
3. Como as avalia?
Sem entrar no mérito das decisões que serviram de pretexto para a saída dos EUA, ela é lamentável e confirma a tendência do governo Trump de distanciar seu país da comunidade multilateral, o que está sendo e será ruim para o mundo, mas especialmente para os próprios EUA. Trump tem adotado posições e tomado iniciativas que isolam seu país e o isolam da maneira mais nefasta possível. Ao retirar-se do acordo de mudanças climáticas, de tratados de livre comércio, do histórico entendimento multilateral sobre o programa nuclear iraniano, entre outras medidas equivocadas, Trump coloca os EUA na condição mais reacionária e chauvinista de sua história recente.
4. Há impactos negativos para a comunidade internacional e os países membros?
Sem dúvida. A ausência na UNESCO de uma nação de tamanha importância cultural, econômica e política como são os EUA certamente vai prejudicar a organização e seus muitos projetos beneméritos. Mas a UNESCO sobreviverá. Não custa lembrar que os EUA já estiveram fora da UNESCO por quase 20 anos (de 1984 a 2003), por decisão de outro presidente ultraconservador, Ronald Reagan, e já não vinham pagando suas devidas contribuições financeiras desde 2011. Nem por isso a UNESCO se acabou.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.