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Opinião

A evolução do desemprego juvenil

Vivemos um cenário em que os jovens podem adiar a entrada no mercado ou está difícil encontrar ocupação remunerada?

Meninas procuram emprego||Desemprego juvenil
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Ainda que as taxas de crescimento econômico dos últimos anos estejam muito baixas, os indicadores apontam que o mercado de trabalho continua dinâmico, com baixas taxas de desemprego e elevação dos rendimentos.

No que diz respeito aos jovens, a redução no desemprego tem sido reforçada pela evolução demográfica, com menor participação dos segmentos juvenis na população.

A partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, que apresenta o quadro anual mais completo do mercado de trabalho, vamos descrever em grandes linhas esse desempenho, com uma análise que cobre o período de 2008, ano de eclosão da crise financeira mundial, com sérios impactos no Brasil, até 2012, data da última Pnad disponível.

Iniciando pela evolução da população, a Pnad aponta um total de 190 milhões de pessoas, em 2008, e 197 milhões, em 2012, com um crescimento de 7 milhões.  Já a participação dos jovens de 15 a 24 anos recua tanto em termos relativos como absolutos, passando de 17,7% (33,5 milhões), em 2008, para 16,7% (32,9 milhões), em 2012.

O total de ocupados avança de 88,6 milhões, em 2008, para 91,8 milhões, em 2012, com crescimento de 3,1 milhões. É importante registrar que aqui está contemplado todo tipo de ocupação: trabalhadores assalariados com e sem carteira de trabalho, trabalhadores autônomos, proprietários empregadores e por conta própria, autoconsumo, autoconstrução e trabalho não remunerado.

Tal como ocorreu em termos populacionais, os jovens de 15 a 24 anos também recuam em sua participação no total dos ocupados, passando de 19,5%, em 2008 (17,3 milhões), para 17,6% (16,2 milhões), em 2012, com um expressivo decréscimo absoluto de 1,1 milhão.

Cabe então indagar sobre o significado dessa queda no emprego juvenil. É sintoma de progresso social, em que jovens de famílias em melhores condições podem se dedicar a outras atividades até ingressarem no mercado de trabalho, ou de dificuldade em encontrar uma ocupação remunerada?

Para  responder a esse questionamento é interessante examinar a evolução do desemprego juvenil. O desemprego total mantém sua queda, passando de 8,8 milhões, em 2008, para 7,5 milhões, em 2012.

Ainda que os jovens de 15 a 24 anos continuem a representar uma parcela muito expressiva do desemprego, eles caem de 46,6% do total, em 2008 (4,1 milhões), para 45,2%, em 2012 (3,4 milhões), com uma redução absoluta de 700 mil.

Constata-se assim que a queda no emprego juvenil não decorre de um agravamento no desemprego. Por outro lado, cabe destacar que 55% da redução total do desemprego ocorre nessa faixa etária! O que indica que o equacionamento do desemprego requer especial atenção para seu componente juvenil.

Desemprego juvenil Foto: PIXABAY

O indicativo da População Economicamente Ativa (PEA) é obtido pela soma das pessoas que estão ocupadas e daquelas que estão procurando ocupação (desempregados). Os que não buscam uma ocupação são considerados inativos e ficam fora da PEA.

Combinando o comportamento do emprego e do desemprego da faixa de 15 a 24 anos, verifica-se que a PEA juvenil recua de 22% do total, em 2008 (21,4 milhões), para 19,7%, em 2012 (19,6 milhões), com queda absoluta de 1,8 milhão.

O conjunto dos elementos examinados permite atribuir um significado positivo, em que a menor pressão para o ingresso precoce no mercado de trabalho aponta para melhores condições  para o desenvolvimento juvenil. Ao mesmo tempo, menor pressão juvenil no mercado de trabalho significa melhores condições para adultos disputarem as oportunidades geradas.

Tal como ocorreu para o conjunto dos ocupados, verifica-se uma expressiva melhora na estrutura social dos jovens ocupados: redução daqueles com padrão de vida de miseráveis e pobres e aumento dos que se encontram na situação de baixa classe média. É o que apresenta a tabela ao lado.

Em termos absolutos, nesse período ocorreu uma dupla melhora, pois, numa situação de queda no desemprego, o total de jovens ocupados caiu em 1,1 milhão e 3,5 milhões saíram da condição de miseráveis e pobres, conforme mostra a tabela sobre a evolução dos ocupados. Por sua vez, 2,2 milhões ascenderam a um padrão de vida de baixa classe média e 200 mil ao de média classe média.

Examinando as principais atividades econômicas que criaram ocupações para jovens no período, verifica-se que o comércio foi a principal atividade na baixa classe média, com 28,4% das oportunidades geradas, e ocupa a terceira posição na média classe média, com 13,9%.

A indústria de transformação fica em segundo lugar na baixa classe média (16,6%) e não se destaca na média.  O conjunto de atividades reunidas em outras atividades e atividades mal definidas assume a terceira posição na baixa classe média (12%) e é a mais relevante na média (20,7%). Nesse amplo agregado destaca-se o importante segmento de prestação de serviços a empresas.

A construção civil ocupa a quarta posição nos dois estratos sociais, respectivamente, com 11,8%, na baixa, e 13,5%, na média classe média. Alojamento e alimentação ficam em quinto lugar na baixa classe média (7,1%) e não se destacam na média.

Por sua vez, administração pública ocupa a quinta posição na média classe média (12,4%) e não aparece entre as principais na baixa. Educação, saúde e serviços sociais ficam em sexto lugar na baixa classe média (6,9%) e em segundo na média (14,5%). Por fim, transporte, armazenagem e comunicação ficam com a sétima posição na baixa classe média (5,8%) e com a sexta na média (6,4%).

*Waldir Quadros é professor da Faculdades de Campinas (Facamp) e professor colaborador do Cesit – IE/Unicamp.

*Publicado originalmente em Carta na Escola

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